Com mais de 187 mil novas vagas de emprego disponíveis, país precisa de imigrantes
Nos Estados Unidos, o chamado “Ano Fiscal” começa em 1 de outubro. É nesta data que o governo anuncia o orçamento que as agências federais americanas terão a disposição pelos próximos doze meses. É também neste dia que são divulgadas quais categorias de vistos, green cards e demais benefícios imigratórios estarão disponíveis, em qual quantidade e de que forma estes benefícios serão distribuídos.
E para milhares de brasileiros que sonham em morar nos Estados Unidos, o próximo Ano Fiscal será decisivo. De acordo com o Itamaraty, existem atualmente 1.9 milhão de brasileiros nos EUA e, dependendo do que for determinado pelas autoridades americanas para 2024, esta comunidade pode chegar a 2 milhões de pessoas. Para que isto aconteça, no entanto, será preciso que o Congresso aumente a quantidade de green cards (documento que concede o direito a residência no país), principalmente para imigrantes qualificados por ofertas de emprego, carreiras bem-sucedidas ou capacidade de investimento. Mas será que o Congresso está disposto a incluir mais green cards para o Ano Fiscal 2024?
“Poucas vezes na história dos EUA houve tanta incerteza sobre um novo ano fiscal quanto agora. Em um Congresso cada vez mais dividido, Democratas e Republicanos parecem não conseguir chegar a um consenso em relação a qualquer assunto que diga respeito a imigração. As leis imigratórias americanas são ultrapassadas e não refletem a realidade atual da sociedade americana. O país precisa como nunca da mão-de-obra de estrangeiros para atender a demanda do mercado de trabalho, seja para ocupar cargos de baixa renda quanto para altos cargos em grandes multinacionais, especialmente nas empresas de tecnologia e ciências. Sem essa força de trabalho dos imigrantes, os EUA não conseguirão mais se sustentar como maior potência econômica do planeta” – analisou Marcelo Gondim, advogado em Los Angeles, com mais de 20 anos de experiência em imigração para os Estados Unidos.
De fato, o mercado de trabalho americano vive uma situação curiosa, onde existem mais vagas de emprego disponíveis do que pessoas interessadas ou qualificadas para ocupa-las. De acordo com um relatório divulgado no início de setembro pelo Departamento de Trabalho dos EUA (BLS), foram criadas 187 mil novas vagas de emprego em agosto, um número bem acima do esperado pelos economistas, que previam 170 mil novos postos de trabalho. Com uma economia novamente superaquecida, os Estados Unidos precisam contar com o talento de estrangeiros para preencher grande parte destas vagas, muitas delas, inclusive, em indústrias vitais para o país, como saúde, aviação, logística, engenharia e uma série de outras áreas que requerem conhecimento técnico. E a chegada destes profissionais aos EUA passa diretamente pelas decisões que forem tomadas para o Ano Fiscal 2024.
“No Ano Fiscal 2022, foram colocados a disposição cerca de 280 mil green cards para imigrantes qualificados na categoria “Employment-Based” (green card por carreira, emprego ou investimento). Já no Ano Fiscal 2023 este número caiu para 226 mil. Além disso, algumas das principais categorias de green card que permitem a chegada destes imigrantes no país, como o EB-2 NIW (muito popular entre brasileiros que se mudaram para os EUA nos ultimos 6 anos), sofreram restrições no Ano Fiscal que está se encerrando em 30 de setembro. A expectativa para o Ano Fiscal 2024 é que as autoridades americanas consigam superar as diferenças políticas e compreendam que é preciso retomar o crescimento destas categorias imigratórias, o que irá refletir diretamente melhoria da economia do país. Um Ano Fiscal que ajude aumentar a quantidade de imigrantes legais nos Estados Unidos é benéfico para todos, principalmente para o progresso da sociedade americana” – explicou Gondim, que já auxiliou juridicamente milhares de brasileiros que migraram para os EUA.
Se durante o governo Obama (2009-2017), os “Anos Fiscais” foram marcados por um incentivo a políticas pró-imigração, com ampliações de cotas de vistos e criação de programas humanitários, no mandato de Trump (2017-2021) o orçamento fiscal foi em grande maioria direcionado para medidas de proteção nas fronteiras (como no caso do Muro com o México) e medidas sanitárias implementadas na pandemia. Especialmente no último Ano Fiscal de Trump (2021), houve um endurecimento ainda maior das políticas de combate a imigração ilegal e aumento nos números de deportações.
Com a chegada de Joe Biden ao poder, em janeiro de 2021, havia uma grande expectativa de que o presidente democrata conseguisse aprovar uma ampla reforma imigratória, que poderia beneficiar até 11 milhões de pessoas em situação irregular nos EUA. Na prática, entretanto, não foi o que aconteceu. E embora o atual presidente tenha conseguido revogar alguns decretos imigratórios de seu antecessor, o orçamento para a tão sonhada reforma nunca foi aprovado pelo Congresso. Para piorar, os anos de Biden vem sendo marcados pela maior crise humanitária na fronteira em toda história dos EUA, com uma média de 2 milhões de pessoas deportadas anualmente desde 2021.
Sobre o especialista: Marcelo Gondim
Marcelo Gondim é advogado especializado em imigração para os EUA, com mais de 20 anos de experiência em processos de green card e vistos americanos. Ele é licenciado pelo Estado da Califórnia. Marcelo nasceu no Brasil e também possui cidadania americana. Ele é o fundador e principal advogado da Gondim Law Corp, escritórios de advocacia imigratória situado em Los Angeles.